Nos últimos dias, as declarações do nosso nobel da Literatura, a respeito de uma hipotética união ibérica, serviram de mote a algumas conversas com amigos e colegas. Embora a maior parte das pessoas se manifesta contra semelhante projecto, não falta em Portugal quem pense que uma união com Espanha permitiria melhorar o nosso modo de vida. A fazer fé nas sondagens, muitos portugueses estão mesmo dispostos a abdicar da nossa secular soberania em prol da incorporação de uma federação ibérica, seduzidos pela miragem do milagre económico espanhol.
Confesso que a mim, que me considero patriota sem ser patrioteiro, esta opinião cada vez mais difundida me irrita q.b.. Antes de mais, porque a memória dos nossos antepassados, que lutaram e morreram para que hoje tenhamos o direito de nos governarmos a nós próprios, merecia melhores guardiões que esta geração disposta a vender a sua herança em troca de um mísero prato de lentilhas. Portugal está cheio de Esaús, que por uma ninharia estão dispostos a abdicar do seu património ancestral. Confesso que isto me envergonha.
Em segundo lugar, não acredito que vivêssemos melhor se estivessemos integrados nessa federação ibérica. A economia espanhola está bem, mas não está assim tão bem como certos arautos domésticos do zapaterismo nos querem vender. Além disso, não seriam os espanhóis a resolver os nossos problemas, a menos que Portugal fosse uma província governada directamente a partir de Madrid e não uma região autónoma (e mesmo assim não acredito que conseguissem melhorar alguma coisa).
Já para não falar do precedente histórico. Em 1580, as élites portugueses apoiaram a ascensão ao trono de Filipe II porque queriam retirar benefícios do império dos Áustrias. Cegos pela ganância, conduziram o país ao desastre.
No essencial, as razões que levaram à Restauração em 1640 são as mesmas que ainda hoje falam a favor da manutenção da soberania nacional. A meu ver, o único argumento racional que poderia ser esgrimido a favor da tese iberista seria o da integração económica. Mas isso, meus amigos, já existe, via União Europeia!
Recordemo-nos que só não é conquistado o povo que não oferece resistência. Porque esse já está conquistado antes mesmo de a batalha começar.
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